terça-feira, 1 de junho de 2021

MARTA

 Por Francisco Alves dos Santos Júnior 


O seu nome era Marta.

Tinha, na parte interna da coxa direita,

Escrito a leite quente de castanha de caju,

O nome Marcos,

O seu primeiro homem,

Talvez o seu primeiro e único amor,

Com quem se “perdera”

E de quem se perdeu

Ainda em tenra idade

 

“Nunca mais nos vimos”,

Disse-me, entristecida,

Sentada na ponta da cama

Daquele quente quarto de  bordel.

 

“Meu Pai e meus irmãos queriam matá-lo.

Mãe eu já não tinha. 

Então, Marcos  sumiu no mundo,

Deixando no meu ventre juvenil,

Sem querer e sem saber,

O nosso filho.

E,

Numa maldade sem fim,

Meu Pai e meus Irmãos

Expulsaram-me de casa,

‘Filha solteira prenha aqui não fica!’

Bradou, colérico,  meu Pai.

Por isso terminei neste bordel,

Donde tiro o sustento do nosso filho”.

 

Marta, minha primeira mulher,

Tinha um filho

Do seu primeiro homem,

Chamado Marcos,

Marcado,  a leite quente de castanha de caju,

Na parte interna da sua coxa direita.

 

Quando nos despedimos,

O sol das cinco horas da manha

Já derretia o delicado orvalho das flores silvestres do lugar.

 

Recife, 01.06.2021, 22:15h.