sexta-feira, 24 de abril de 2020

No Vulto da Mulher Amada

                                          Por Francisco Alves dos Santos Jr


Sozinho, como se chega ao mundo,
Vago  no silêncio do vazio de tudo,
E mesclo-me nas faces desconhecidas,
nos sorrisos dos estranhos que passam,
nas serenas águas do atlântico, 
no vulto da mulher amada,
Que partiu numa manhã de sol.

Na madrugada insone,
Raios da lua penetram pelas frechas das janelas,
Com os arrulhos da maré alta,
E dos ventos que a alimentam,
E num sono leve,  quase acordado,
Vejo-me fantasma,
No silêncio do vazio de tudo,
No vulto da mulher amada.

Recife, 22.04.2018, 12:00h.

Olhos Claros

                    Por Francisco Alves dos Santos Jr

Verdes,  Azuis,
Os olhos daquela mulher?
Não importa.
Apenas claros, misteriosos,
Desconcertantemente belos.

Neles divago,
Perco-me,
Volto no tempo,
Remoço-me.

Como faço para neles navegar?
Ou devo simplesmente esquecê-los
Distanciar-me
E sumir no nevoeiro de uma fina neblina matinal?

Recife, não recordo da data.

AS MÃOS


                                                   Por Francisco Alves dos Santos  Júnior

Mãos que quebram o sol na proteção dos olhos,
Puxam a enxada no vigor da juventude,
Dirigem o arado no revolver da terra,
E içam do mar a rede da fartura


Mãos que  acariciam os cabelos,
As faces,
O corpo.
E transformam-se em conchas dos seios da mulher amada
Na preparação dos corpos para momentos inesquecíveis.

As mãos
Que  sustentam o corpo no cajado da velhice
E,
No derradeiro instante,
Jogam, no túmulo, a última pá d’areia
Num lacrimoso triste adeus.


 Recife, 23.07.2015, depois de ler um belo poema sobre o tema mãos do poeta baiano Carlos Roberto Santos Araújo, o Bahia para os amigos.

Guarde

                 Por Francisco Alves dos Santos Júnior


Se os momentos bons e ruins são efêmeros,

Então guarde a lágrima de amor que te dei.

O sorriso que não dei p'ra ninguém.

Guarde a sensação do corpo quente e trêmulo por você.

Do gozo, dos sussurros e das batidas do meu coração.

Guarde tudo porque eu te dei tudo de melhor que tive, que tinha,

Que tenho.

Recife, 10.10.2013.

Ventos de Julho


               
Por Francisco Alves dos Santos Júnior

Vidraças tremem e uivam
Com o açoite dos ventos
Vindos do mar

O barulho das ondas
Quebrando na praia
E o uivo dos ventos
Assustam a cadela, que ladra e enrosca-se
Nas pernas da moça
Que reza baixinho
Pedindo aos santos
P’ros ventos cessarem.

A noite aprofunda-se
Os ventos aumentam
As ondas agigantam-se
E, assustadoramente,
Levam as palafitas
Invadem as ruas
Próximas do mar

O medo aumenta
Com a chegada da chuva
Chuva de vento
Que açoita e destrói
Encharca os morros
Que se desmoronam,
Matando e enterrando
Pobres e pobreza
Num quase alívio
De tanta miséria, de tanto sofrer.

Sob uma triste sinfonia
Do surdo dos trovões
Do uivo dos ventos
Do açoite das chuvas
Do clarão dos relâmpagos
Do silêncio das trevas da morte
Debaixo da lama
Debaixo das águas
Num quase alívio
De tanto sofrer.
       
Dedico esse poema a “Seu” Geraldo, pai do compositor-cantor Lenine, poema este que foi feito sob o impacto da notícia da sua morte. O “Seu” Geraldo, com quem tive o prazer de conviver por certo tempo,  era um homem dedicado aos pobres e ao aprimoramento dos seres humanos.
E hoje é um dia de muito vento e muita chuva na cidade do Recife-PE, vindos certamente para levá-lo, com maior rapidez e suavidade, para um mundo melhor.

Este poema  foi pubilicado em um dos números da Revista "Argumento" da AJUFE - Associação dos  Juízes Federais do Brasil.

Recife,  Praia de Boa Viagem, em 16.07.2015

O RETORNO

Por Francisco Alves dos Santos Júnior

             
Já era noite, quando chegamos,
Depois de muitos dias  de viagem.
Corri ao janelão,
Abri as vidraças
E senti no rosto a tua brisa morna e cheirosa,
O barulho das tuas ondas,
O brilho da luz da lua nas tuas águas,
O farfalhar das folhas dos teus coqueiros,
O som longínquo e triste de um violão apaixonado.
E revi as luminárias da tua Avenida e da tua Pracinha
E as pessoas correndo no teu calçadão.

Quero amanhã sentir o calor do teu sol,
O acariciar das tuas areias nos meus pés,
A mornidão das tuas águas
E ouvir o grito do vendedor de picolés, de salada de frutas, 

Ah como quero!

Minha linda Praia de Boa Viagem.
  


Recife, 06.01.2018, 23,03 horas.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Indiferença


Olho
E não vejo
Passo hirto.
Ele, ela, eles, humanos.
Alguns dormem(anestesiados pelo crak?)
sob as marquises.
Outros estendem as mãos e murmuram algo.
Não são ouvidos.
Já fazem parte da paisagem urbana brasileira.
Será por isso que não são mais notados?
Olho, passo e não vejo.
E você?

Recife, 12.03.2020, após um passeio pelas Ruas do Recife.