domingo, 18 de julho de 2021

JÚLIA

 Por Francisco Alves dos Santos Júnior


Foi num encontro de fevereiro
Nas montanhas das Minas Gerais
Que te plantamos no ventre da tua Mãe.
E te vimos nascer linda, em terras pernambucanas,
Lourinha encantadora, de olhos impressionantemente verdes.
E como engatinhaste logo!
E logo, logo caminhaste.
Tinhas pressa,
Cresceste muito, muito,
Quase um metro e oitenta
E, embora caladinha,
Traçaste no teu silêncio o teu destino.
Foste longe, aos 14 fizeste as malas
Sozinha, rumo aos States, onde fizeste o segundo ano.
Voltaste toda, toda, falando inglês e coisa e tal.
Mas, não assentaste poeira, na tua Recife Natal
Num repente, arribaste pro Rio de Janeiro,
Onde te embaralhaste no juridiquês carioca
Da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ
Ahh!
O teu destino não estava no mundo de Pontes de Miranda,
Mas sim no sonho enlouquecido dos irmãos Lumière
E estás tu agora estudando
Na Escola do Cinema Pernambucano da UFPE
Num novo retorno ao teu Recife Natal,
E que abras as tuas próprias veredas
Renoves, renovando-se, criando e recriando-se.
Na tua vida multicultural,

Bissexual.


 

Recife, 18.07.2021, num fim de tarde de domingo recifense, às margens da Praia de Boa Viagem.

terça-feira, 1 de junho de 2021

MARTA

 Por Francisco Alves dos Santos Júnior 


O seu nome era Marta.

Tinha, na parte interna da coxa direita,

Escrito a leite quente de castanha de caju,

O nome Marcos,

O seu primeiro homem,

Talvez o seu primeiro e único amor,

Com quem se “perdera”

E de quem se perdeu

Ainda em tenra idade

 

“Nunca mais nos vimos”,

Disse-me, entristecida,

Sentada na ponta da cama

Daquele quente quarto de  bordel.

 

“Meu Pai e meus irmãos queriam matá-lo.

Mãe eu já não tinha. 

Então, Marcos  sumiu no mundo,

Deixando no meu ventre juvenil,

Sem querer e sem saber,

O nosso filho.

E,

Numa maldade sem fim,

Meu Pai e meus Irmãos

Expulsaram-me de casa,

‘Filha solteira prenha aqui não fica!’

Bradou, colérico,  meu Pai.

Por isso terminei neste bordel,

Donde tiro o sustento do nosso filho”.

 

Marta, minha primeira mulher,

Tinha um filho

Do seu primeiro homem,

Chamado Marcos,

Marcado,  a leite quente de castanha de caju,

Na parte interna da sua coxa direita.

 

Quando nos despedimos,

O sol das cinco horas da manha

Já derretia o delicado orvalho das flores silvestres do lugar.

 

Recife, 01.06.2021, 22:15h.

domingo, 9 de maio de 2021

DIA DAS MÃES.

 Por Francisco Alves dos Santos Júnior

Num dia pra lá de especial, Deus pensou muito, tentando ter uma ideia mais especial que aquele dia e, repentinamente, veio a sua mente divina algo que ele num sopro materializou e chamou de Mulher-MÃE e dela vieram todas as pessoas que hoje habitam o mundo.

É verdade que uns homens barbudos e machistas, lá num passado longínquo, inventaram que daquele jeito Deus teria criado o homem e de uma sua costela, a mulher, história essa maluca porque de uma costela de um homem nem mesmo Deus poderia criar algo tão perfeito, como a Mulher-MÃE.

E PARABÉNS para todas as MÃES do mundo, principalmente para a minha, que é aquela Estrela que mais brilha no céu.

Escrito no dia 09.05.2021, à 00h10, em Recife, Brasil.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Num Relâmpago

 Por Francisco Alves dos Santos Júnior


A vida escala-me,

Escapa-me,

Esvai-se,

Não te alcanço.

Avanço no tempo,

Indo, voltando.

Olho e não te vejo,

Ouço o som de um realejo.

Não, não te ouço,

Não te encontro.

Ranço, pés de jumbo.

Trapo. 

Lembranças. 

                 

Recife, 10.02.2021, 01;10h, após:  1) conversar com filha de uma prima, internada/entubada com covid19, que não vejo há quase 50 anos;  2) ver documentário sobre o artista/pintor David Hockney.