sábado, 8 de novembro de 2014

No Bar Redondo


   Por Francisco Alves dos Santos Júnior

   Corria o ano de 1977. A ditadura militar brasileira estava no seu auge. João e colegas, amigos da faculdade de direito, costumavam encontrar-se no bar Redondo, na esquina da Av. Ipiranga com Av. Consolação, na capital paulista, para jogar conversa fora e, se desse sorte, arranjar alguma garota para um sexo casual. Naquela noite, fazia parte do bate-papo Marta, uma garota que estudava jornalismo na USP. Era manca da perna direita e estava afim de Pedro, que se fazia de desentendido, ao que parece por preconceito, pois estava na frente dos amigos e não queria mostrar que saia com uma garota que mancava. João notou que ela queria mudar do assunto, que girava sobre política e economia. Conseguiu puxar para assuntos relativos a sentimentos e relacionamentos entre homem e mulher. Carlos, o mais jovem do grupo, ainda calouro, recém-chegado do interior, esfregava as mãos de contentamento. E Marta, muito descontraidamente, dizia que quando sentia tesão por alguém continuava com esse tesão até chegar em casa ou no local da transa. Carlos, rindo nervosamente e com o rosto vermelho, aumentou o movimento do esfregar das mãos e parecia que queria acender um cigarro com a fricção. E Pedro, para quem Marta olhava insistentemente, desconversava. João entrou no papo e, já um tanto interessado, perguntou se o cara com quem ela estivesse afim não correspondesse o que ocorria com o seu tesão. Marta, sem qualquer constrangimento e sem titubear, respondeu “azar dele, porque saio com o que me der bola”. João fez mais perguntas e Marta respondeu todas na bucha. Pedro, meio sem jeito, puxou uma conversa paralela com Carlos, e João aproveitou para alongar a conversa com Marta. Ficaram até tarde da noite e depois de várias cervejas resolveram ir embora. Pedro e Carlos seguiram no mesmo sentido, moravam por ali, numa repúbica. João ofereceu-se para levar Marta até o ponto de ônibus e naquela noite João não dormiu na casa do estudante, onde morava. 

Recife, Boa Viagem, em 01.11.2014, às 17:45h.

sábado, 13 de setembro de 2014

CRÔNICA SOBRE UM PROBLEMA DA CIDADE DO RECIFE


Por Francisco Alves dos Santos Júnior

Principalmente em períodos de chuvas, quando o mar fica mais agitado e com maior volume d’água, todos os dias uns dez operários(observados por mais duas ou três pessoas, creio que gerentes e/ou engenheiros)da Prefeitura da cidade do Recife,  com pás e outros instrumentos de construção civil, repõem,  na pouca nesga de praia que ainda resta logo depois do terminal do bairro de Boa Viagem, a areia que é trazida por caminhões caçamba e que, horas depois, é sugada pelas águas do mar, durante a  maré alta. E o mar também trata de desarrumar as pedras e barras de cimento que são também, por tais operários, re-arrumadas durante o dia. E o mar ainda destroi as ladeiras de madeira e de cimento pelas quais os frequentadores daquela belíssima praia descem do calçadão até a areia, obviamente quando a maré está baixa, porque na maré alta não há mais areia naquela praia.

Esse drama citadino lembra um outro famoso drama, o de Prometeu, cujo fígado era destroçado todos os dias, por uma gigantesca águia, e que renascia imediatamente, como castigo de Zeus, por ter Prometeu contado aos homens o segredo do fogo.

Mas na realidade da cidade pernambucana o sangue do fígado do Sr. Prefeito não está sendo sugado, como era o de Prometeu, mas sim o suado dinheiro do povo recifense, pois, sem uma solução definitiva, está sendo jogado literal e diuturnamente ao mar.

Por que não adotar uma solução definitiva? Afinal o atual Sr. Prefeito da cidade do Recife foi apresentado ao seu povo, na época da eleição, como um grande gestor público.

É bom registrar que idêntico problema existia na praia de Iracema da bela cidade de Fortaleza, capital do Ceará, e foi resolvido com a singela construção de diques de pedras, penetrando uns dois quilômetros mar a dentro e nunca mais as ondas marítimas subiram/destruíram o calçadão daquela famosa praia alencarina.

Oxalá,  o Sr. Prefeito da cidade do Recife se compadeça das parcas receitas  dessa linda cidade, extraídas dos suados  recursos  dos seus cidadãos, e mostre sua propalada fama de “grande gestor”, dando uma solução definitiva para o noticiado problema, aparentemente de solução tão simples, como aconteceu na capital cearense.  

Recife, 14.08.2014.

Na Luta

Francisco Alves dos Santos Jr.

Ando cansado
mas continuo na luta
porque só assim
irei contribuir
por um mundo menos pior








domingo, 24 de agosto de 2014

Linda Silhueta




Por Francisco Alves dos Santos Jr

Estavas “iogando” no sol matinal da praia,
Ereta, elegante.
Equilibrava-te numa perna só(e que perna, que beleza, que torneio),
A outra fechava em quatro.
Tinhas os braços estendidos em cruz e parecias um pássaro prestes a voar, 
Ou que já flutuava sobre as águas do mar.
De longe, era tênue, delgada, a tua silhueta
E tua pele caucasiana esmaecia-se na alvura da areia do lugar.


Recife, 24.08.2014, praia de Boa Viagem.

sábado, 10 de maio de 2014

MINHA MÃE: OBRIGADO E PARABÉNS!

Por Francisco Alves dos Santos Jr

Você
Que nos suportou no ventre por 117 meses
E, finalmente, nos trouxe ao mundo
Treze rebentos, nove mulheres e quatro homens,


E, depois,
Nos dedicou tanto carinho e atenção
Nas noites insones das nossas doenças
Dos nossos medos, inseguranças
Dos nossos anos que se arrastaram
Na passagem modorrenta pelo tempo


Nos ensinando o laço do sapato
O abotoar da camisa
O escovar dos dentes
As boas maneiras na mesa e na vida
A cartilha do ABC
As primeiras contas de aritmética


E que lavou as nossas roupas
De cócoras no quintal
Até que um dia fizeram um tanque
Para sua alegria triste
E no dia seguinte as engomava
Sob o insuportável calor do ferro com brasa


Esteja onde estiver
Certamente no Paraíso
O meu muito obrigado, minha infinda saudade
E meus parabéns por este dia das Mães.

Recife, Pernambuco, Brasil, 11.05.2014, Dia das Mães.
 

sábado, 26 de abril de 2014

LEMBRANÇAS


     Por  Francisco Alves dos Santos Jr

Quando estou chegando em Milagres-CE, minha terra natal, nas poucas visitas que lhe faço, sinto o cheiro do vapor da chuva subindo, a palha do milho verde roçando e às vezes cortando as minhas mãos, o barulho do leite(no balde)jorrando do peito da vaca, o cheirinho do pão da padaria do "seu" João Gorgonha, o barulho das bilas(bolas de gude), chocando-se nos jogos de rua, o barulho do pião, lançado com barbante grosso, o suor do jogo de futebol, vôlei e ping-pong no Colégio das Freiras; revejo as poças d'água na estrada de barro, ouço o barulho das águas dos caldeirões nas chuvas de março, o relinchar dos jumentos como canto de amor, faço de novo o giro noturno na praça da Matriz, a dança nas tertúlias, o rosto no rosto e a vitrola a tocar...

sábado, 5 de abril de 2014

"PODRES PODERES"

Por Francisco Alves dos Santos Jr.

Sentimento de impotência, revolta e solidão
Diante de tanta corrupção
Nos “podres Poderes" da nação
                 
Recife, 23.12.2011.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

DEVANEIO


 


             Por Francisco Alves dos Santos Jr.

 

O gozo lento,

o resfolegar dos corpos,

a gostosa sensação do prazer.

Os seus olhos fundos, felizes,

saciados.

E eu do lado, exangue,

realizado.

            Recife, 10.10.2013