Por Francisco Alves dos Santos Júnior
Corria o ano de 1977. A ditadura militar brasileira estava no seu auge.
João e colegas, amigos da faculdade de direito, costumavam encontrar-se no bar
Redondo, na esquina da Av. Ipiranga com Av. Consolação, na capital paulista,
para jogar conversa fora e, se desse sorte, arranjar alguma garota para um sexo
casual. Naquela noite, fazia parte do bate-papo Marta, uma garota que estudava
jornalismo na USP. Era manca da perna direita e estava afim de Pedro, que se
fazia de desentendido, ao que parece por preconceito, pois estava na frente dos
amigos e não queria mostrar que saia com uma garota que mancava. João notou que
ela queria mudar do assunto, que girava sobre política e economia. Conseguiu
puxar para assuntos relativos a sentimentos e relacionamentos entre homem e
mulher. Carlos, o mais jovem do grupo, ainda calouro, recém-chegado do interior,
esfregava as mãos de contentamento. E Marta, muito
descontraidamente, dizia que quando sentia tesão por alguém continuava com esse
tesão até chegar em casa ou no local da transa. Carlos, rindo nervosamente e
com o rosto vermelho, aumentou o movimento do esfregar das mãos e parecia que
queria acender um cigarro com a fricção. E Pedro, para quem Marta olhava
insistentemente, desconversava. João entrou no papo e, já um tanto interessado,
perguntou se o cara com quem ela estivesse afim não correspondesse o que
ocorria com o seu tesão. Marta, sem qualquer constrangimento e sem titubear,
respondeu “azar dele, porque saio com o que me der bola”. João fez mais perguntas
e Marta respondeu todas na bucha. Pedro, meio sem jeito, puxou uma conversa
paralela com Carlos, e João aproveitou para alongar a conversa com Marta. Ficaram até
tarde da noite e depois de várias cervejas resolveram ir embora. Pedro e Carlos
seguiram no mesmo sentido, moravam por ali, numa repúbica. João ofereceu-se
para levar Marta até o ponto de ônibus e naquela noite João não dormiu na casa
do estudante, onde morava.
Recife, Boa Viagem, em 01.11.2014, às 17:45h.