sábado, 16 de maio de 2015

SINTO

            Francisco Alves dos Santos Jr  

O seu cheiro,

O seu perfume,

O calor do seu corpo trêmulo,

A sua maciez rígida,

Os seus lábios finos,

O seu gozo úmido,

O latejar do prazer,

A languidez,

O esmorecimento,

O sono suave.

 

Recife, 16.05.2015

sábado, 9 de maio de 2015

Agonia. Sertão.



Por  Francisco Alves dos Santos Jr



Sem chuvas ,

estrada barrenta,

O cavalo do Feitor levanta poeira.

O gado magro passa lentamente,

ruminando  no aboio triste do vaqueiro.

Casa de taipa.

A mulher, da janela, olha desesperançada.

O seu filho, de ossos a vista, puxa sua saia,

pede de comer.

Não há nada na panela

O sol, vagarosamente, se vai.

A noite chega.

 Os bezerros, separados das mães, berram em vão,

 o leite é para o filho do patrão.

Uma esperançosa nuvem se forma ao longe.

Ouve-se o zurrar do burro;  uma jaracuçu foge pelo mato seco.

Delgada lua minguante passa ao longe.

 

Recife, 08.05.2015, 20:33h.

 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Solidão





Por Francisco Alves dos Santos Jr.

Aqui em casa, todos viajaram neste dia do trabalhador de 2015, menos eu e a nossa cadelinha Frida[1], uma simpática e amorosa espécie da raça shitzu. Depois do nosso rotineiro passeio, retornamos ao apartamento. Sentei-me na minha cadeira de balanço e a Frida deitou-se aos meus pés. Tomei o clássico “Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo” de René David e dele li alguns trechos. De repente, quando o sol estava se pondo, senti uma solidão insuportável e “ouvi” um silêncio que me permitia sentir o quase inaudível barulho da queda dos poucos fios de cabelos que me restam e o farfalhar da cauda da Frida. Da minha cadeira de balanço, próximo ao janelão da varanda do 13º andar,  dava para ver o intenso balanço das ondas do mar da praia de Boa Viagem, a menos de meio quarteirão de distância. Resolvi então “fugir” da solidão e fui dar uma caminhada no calçadão da beira-mar. Aliviei-me com a brisa morna e suave que soprava, com a explosão de incontida alegria das pessoas que ali estavam, uns simplesmente, como eu, andando, outros correndo ou conversando alegremente e muitos jogando vôlei ou futebol nas areias da praia, aproveitando a maré baixa, pois quando alta já não resta areia. Caminhei por uns dois quilômetros,  tomei um leite com café e tapioca na Padaria Boa Viagem, comprei salgados de queijo, alguns pães,  e voltei. Sentei-me novamente, com o computar no colo, televisão ligada no noticiário, e escrevi este desabafo.


[1] Tributo à Frida Kahol, revolucionária pintora mexicana.